18 de dez. de 2011

Páginas amarelas da Veja. Sobre o que todo mundo sabe e ninguém muda.

Na edição da semana passada o entrevistado foi o sociólogo Claudio Beato, teórico especialista em segurança pública, coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG que falou, especialmente, sobre a velhissima e conhecidissima necessidade de uma limpeza na polícia, especificamente, de acordo com a proposta da entrevista, na polícia do Rio de Janeiro.
O especialista fez declarações bombásticas, daquelas que, infelizmente, não fazem nenhum efeito. Dêem uma conferida:

“As milícias galgam postos na polícia, operando para que os crimes jamais sejam apurados”.

“É preciso empreender uma faxina na polícia do Estado, que figura entre as mais corruptas do país. A podridão não se limita às bases da corporação, mas está entranhada nos mais altos escalões.

A descoberta de que o mentor do assassinato de uma juíza era um tenente-coronel envolvido com grupos de extermínio ou a saída do país de um deputado sob ameaça de milícias são dois estarrecedores episódios que expõem o problema de forma inequívoca.

A limpeza na instituição deve ser implacável. Afinal, as quadrilhas formadas pelos bandidos de farda, esses que compõem as milícias, são, a meu ver, o maior mal a ser combatido na área da segurança pública — um fenômeno brasileiro que ganha contornos próprios no Rio de Janeiro.

A conivência da polícia e dos políticos ajuda a explicar essa aberração. Foram décadas até que se chegasse a tal situação. E não foram poucas as chances de interromper o processo.

Assim como em outras grandes cidades que passaram por flagelo semelhante, como Los Angeles ou Bogotá, a história teve início quando as gangues que atuavam nas favelas cariocas começaram a se organizar dentro das cadeias, na década de 80. Surgiram aí as facções criminosas ainda hoje em atividade.

O mesmo se deu em São Paulo, com o PCC, e em outras cidades do país, em menor escala. Mas só mesmo no Rio, onde a promiscuidade entre a polícia e a bandidagem se manifesta de forma mais pronunciada desde a era dos grandes bicheiros, os criminosos encontraram um ambiente tão favorável.

Isso permitiu que evoluíssem para o absurdo que é o domínio de porções da cidade pelos marginais. Quando contei a um amigo americano que me visitou recentemente sobre os avanços no Rio, ele indagou: “Deixe-me ver se entendi. Vocês tinham áreas inteiras dominadas por traficantes e nunca haviam feito nada a respeito?”. Ele está certo. O mais espantoso é que o Estado tenha demorado tanto a agir”.

Na edição desta semana, que chegou hoje às bancas, é a vez do presidente do Tribunal Superior do Trabalho,  João Orestes Dalazen, soltar um monte de bombas que, também, não farão nenhum efeito. Explodirão todas num chão já arrasado. Confira:

“A criação de sindicato é um dos negócios mais sedutores e mais rentáveis neste país”.
“Há uma grave anomalia na organização sindical brasileira, a começar por essa desenfreada e impressionante proliferação de sindicatos, que está na contramão do mundo civilizado. A redução do número de sindicatos fortalece a representatividade e dá maior poder de barganha. Não se conhece economia capitalista bem sucedida que não tenha construído um sistema de diálogo social através de sindicatos representaivos e fortes. No Brasil, infelizmente, o panorama é sombrio.
Aqui, os sindicatos, em sua maioria, são fantasmas ou pouco representativos. O Brasil vive uma contradição. A Constituição prevê o regime de sindicato único. Só deveria haver uma entidade representativa de cada categoria de cada categoria em determinada área. Na prática, há uma proliferação desenfreada de sindicatos. Isso se explica porque a criação de sindicato é um dos negócios mais sedutores e mais rentáveis que se podem cogitar neste país.

[...]

O Brasil precisa ratificar com urgência a convenção da Organização Internacional do Trabalho sobre a liberdade sindical. Nosso país está entre os poucos de economia capitalista que ainda não o fizeram. Essa convenção consagra a ampla liberdade de criação de sindicatos, de filiação, de contribuição ou não. A extinção da contribuição sindical é fundamental. Mas a reforma sindical no cenário político de hoje infelizmente é remota. Existe sólida rede de interesses arraigados há décadas”.

Por aqui, todos nós conhecemos nossas realidades. Velhas e absurdas realidades! E as recontamos e as relemos nas principais revistas do país sem que ninguém conteste, sem que nada seja feito para mudar.
Intrigante!

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