A idiotice começou há algum tempo. Se acentuou depois que o Pelé, na maior cara de pau, disse que o Neymar é melhor que o Messi. A partir dali grande parte da imprensa esportiva combinou que manteria essa discussão em evidência. “Quem é melhor, Neymar ou Messi”. Uma dessas canalhices muito bem intencionadas.
Manter essa enquetezinha em evidência, mesmo admitindo que o argentino é melhor, como eu vi, ouvi e li vários jornalistas admitindo (o óbvio e ululante) faz parte daquele processo de industrialização de um ídolo. Perdoável até, desde que não fosse tão exagerado, desde que não apostassem tanto na falta de senso crítico de seus ouvintes, leitores e telespectadores.
Ontem, poucas horas antes do jogo, a materiazinha no Jornal Nacional falava de como e quanto o treinador do Barcelona estava pensando em marcar o Neymar e não quanto o Muricy estava preocupado em parar o Messi.
Tudo bem! Que brinquem de comparar Neymar e Messi mas acreditar que o Santos tinha alguma chance de encarar o Barcelona…é coisa de fanfarrão. Não me refiro aos que acreditavam que o Santos desse a sorte de vencer mesmo com o Barcelona jogando muito melhor, tendo muito mais posse de bola e criando mais chances de gol. Me refiro àqueles que gritaram nas rádios e nas TVs durante o jogo que o Santos tinha obrigação de ser melhor do que foi, que tinha obrigação de ser mais corajoso, que tinha condições de jogar mais, que creditam muito da derrota ao Muricy Ramalho por ter escalado 3 zagueiros ou por ter escolhido o Elano pra substituir o Danilo.
Durante o jogo, passei pelos dois canais de TV que transmitiram o jogo, Globo e Sportv, e pelas rádios CBN, Globo, Record, Bandeirantes e Jovem Pan. Em todos, tinha lunáticos dizendo que o Santos tinha que ter sido melhor, que era absurda a postura do time, que deviam encarar, que deviam respeitar menos, etc, etc.Na Jovem Pan, deram o azar de entrevistar o Rubens Minelli que em poucos minutos deu uma aula de bom senso aos corneteiros explicando porque não era o Santos o time a ser analisado e, sim, o Barcelona.
De volta para o segundo tempo…e não é que o Santos assanhou alguns poucos bons ataques, criou suas duas chances de gol!? E o que disseram os caras de pau? Até que se o Santos tivesse jogado daquele jeito desde o início, o jogo e o resultado seria outro. Que o Barcelona, vencendo por 3 x 0, tendo toda uma temporada pela frente, pudesse ter relaxado ou até deixado o Santos brincar um pouquinho, ninguém aceitou levar em consideração.
Ao final do jogo, não tiveram outra opção a não ser reconhecer o óbvio: que o melhor time do mundo é espanhol e que o melhor jogador de futebol do mundo é argentino. E não é que nas rádios CBN, Globo, Record, Bandeirantes e Jovem Pan alguns lunáticos insistiram em descarregar asneiras nas orelhas de seus ouvintes, apontando causas e culpados, não pela vitória do Barcelona, pela derrota do Santos!
Não é difícil compreender essa postura da cada vez mais emburrecida imprensa esportiva brasileira. Ao longo dos anos tiveram dificuldade de lidar com o fato do futebol brasileiro ser o melhor do mundo. Nunca encontraram o tom correto da crítica. Álias, sempre politizaram a crítica. De um lado os esquerdistas, fumantes de Marx e bêbados de Gramsci, de outro os de direita, educadores de sentimentos como patriotismo e nacionalismo. E no meio, os puros de coração.
Imaginem, a dificuldade que é lidar com o fato de não termos mais uma Seleção decente, de não termos craques nos principais clubes europeus, de não sermos mais o melhor futebol do mundo, de estarmos muito atrás do futebol jogado pelos espanhóis, pelos alemães e pelos holandeses. Da nossa Seleção hoje não se pode dizer que ela é melhor que pelo menos outras 10 Seleções, alem das 3 citadas.
Tudo isso ás vésperas de uma Copa do Mundo no país. Como vão vender esse produto? Como vão dizer ao mundo que essa é a nossa identidade? Como vão aliar as imagens dos jogos da nossa Seleção ao samba e às mulatas? Se nosso futebol passa por um momento tão ruim, quem somos, o que sabemos fazer de melhor? Não era jogar futebol? E agora?
Essas e outras interrogações explicam muito dos exageros cometidos por parte da imprensa, também, hoje. Explica muito dessa ansiedade, dessa falta do que dizer, dessa preguiça de analisar o futebol com mais inteligência, dessa cara de pau em apostar na falta de senso crítico do torcedor, dessa falta de senso de ridículo.
Do jogo de hoje, tem muita gente, inclusive o Neymar (o menos culpado nisso tudo), dizendo que serviu de lição. Só se for lição para os desatentos, para os que não assistem aos jogos do Barcelona, para quem sofre de uma demência e tiveram dificuldade de compreender a estratosférica diferença entre Barcelona e Santos, para os lunáticos, para os mau intencionados e para os bem intencionados, também.
Mas, claro, sem rancor, sem stress, sem traumas…Afinal, o circo tem que continuar. Estamos todos debaixo da lona, por vontade própria e com muito prazer.
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