A coragem não é, necessariamente,
uma virtude. Todos os dias, no mundo todo, corajosos amanhecem com a boca cheia
de formiga sem qualquer vestígio de heroísmo. E pior: há corajoso que como
presidente de um país corrupto como o Brasil, consegue a proeza de sofrer
impeachment acusado de corrupção.
Sim! Collor continuará na
história do Brasil como único presidente a sofrer impeachment por ser corajoso
e por isso, mesmo, dificilmente perderá o posto de presidente mais burro da
história do país.
A mulher sapiens, Dilma Rousseff,
pode saldar a mandioca como descoberta do Brasil, pode dobrar a meta que não
existe e fingir piripaque em rede nacional de televisão por não conseguir pensar,
pode não ter habilidade para articulações políticas mas não toma este posto do
alagoano.
Primeiro presidente eleito pelo
voto direto após o Regime Militar, o, então, quarentão, bonitão, maridão,
atlético, saudável e moderno Fernando Collor de Mello tinha a aprovação e a boa
vontade de meio mundo e do destino. Mas sua coragem o colocou contra tudo e
contra todos (contra o Congresso, contra a imprensa, contra ricos e contra
pobres) e na história como o presidente mais burro do Brasil.
Nem uma Ferrari, um Porsche e uma
Lamborghini a disposição na mansão da Casa da Dinda é suficiente para amenizar o
incômodo do espinho no orgulho pela certeza da burrice, agravada pelos anos de
corrupção nos governos Lula e Dilma. (Collor torce ou não para ter Dilma como
companhia na história dos impeachmentizados?).
Mas já se passaram 23 anos e
Collor não se suicidou. Durante 8 anos, enquanto esteve impedido de se
candidatar, ele até despistou a loucura alimentando a ilusão de um retorno
espetacular. Arriscou em 2002, sendo derrotado no 1º turno na Eleição para o
governo de Alagoas. Quatro anos depois deu o troco em Ronaldo Lessa sendo
aprovado pelos alagoanos para o Senado Federal.
Em 2010 voltou a se candidatar ao
governo de Alagoas, daquela vez com apoio do Lula e da Dilma. “É Lula apoiando
Dilma, é Dilma apoiando Collor” foi o jingle que marcou o pacto dos antigos
desafetos. Collor perdeu a Eleição mas ganhou Lula e Dilma como aliados. Em 2014 ele
contrariou seu partido e apoiou a candidatura de Dilma por contra própria.
E que golpe!!! O Janot não considerou
seu histórico de relação com a fragilizada presidenta e, entre tantos outros
nomes, o denunciou ao STF.
Tudo volta à tona! A vitória em
1989, o impeachment em 1992, o exílio, a volta, a aliança com os antigos
adversários, a fidelidade à presidenta...e de repente...exposto e sem poder
desconsiderar a possibilidade de viver os próximos anos na cadeia.
Restou a ele sua velha coragem.
Por isso chama o Procurador Geral da República de filho-da-puta e o encara com
os olhos esbugalhados e o topete alto, como se não temesse as consequências.
Mais uma vez Collor está
sozinho...tendo só sua coragem por companhia.