2 de dez. de 2011

O Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político do grupo islamita Irmandade Muçulmana, se declarou o vencedor da primeira etapa das eleições legislativas no Egito, realizada nesta segunda-feira e terça-feira. Em comunicado, o partido afirmou que obteve mais de 40% dos votos na maioria das nove províncias onde ocorreu esta primeira fase, entre elas onde estão localizadas a capital Cairo e Alexandria, segunda maior cidade do país.

Os islamitas afirmaram que venceram a lista fechada, na qual vota-se apenas na legenda, nas províncias de Fayum, Mar Vermelho, Cairo e Asiut. Dois terços das cadeiras da Assembleia do Povo, a Câmara Baixa do Palamento egípcio, serão definidos com esses votos. Na lista aberta, a Irmandade Muçulmana afirmou que vários de seus candidatos foram bem votados. Pelas regras da eleição no Egito, um terço das vagas do Parlamento fica com os candidatos vencedores.

O jornal estatal Al Ahram confirmou a vitória dos islamitas, afirmando que o Partido Liberdade e Justiça e o Al Nour, legenda salafista, foram os dois primeiros em seis das nove províncias onde houve a votação. Em Alexandria, o jornal afirma que a Irmandade Muçulmana alcançou 41% dos votos e os salafistas, 24%. O resultado oficial, no entanto, só deve ser divulgado nesta quinta-feira, declarou a Comissão Eleitoral, que ainda contabiliza votos em localidades mais distantes e também dos egípcios que vivem no exterior. (da VEJA)

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Na edição de domingo, o Estadão publicou entrevista com  um dirigente do partido radical – salafista – Al-Nur (ou Al Nour ou Al Noor), Nader Bakkar. Ele bancou o moderado. Confira:

Vocês aceitam que os militares fiquem no poder até a realização da eleição presidencial? Sim, mas com funções bem específicas, de manutenção da ordem, defesa do país e política externa. Não interferindo em todos os assuntos da vida cotidiana dos egípcios e deixando que o governo civil cuide dos assuntos internos, sem pressão, como a que exercia sobre o gabinete anterior.

Quais são as reais intenções dos militares? Na minha opinião, o conselho militar não acredita que o povo egípcio possa ter uma democracia e um regime civil, como deve ser. É uma ideia preconcebida de que os egípcios não conseguem se governar sem a intervenção militar nas questões internas e externas.

O sr. acha que eles querem desempenhar o papel de barreira contra a influência islâmica, como ocorreu na Turquia? Algumas pessoas aqui no Egito querem isso, mas agora não podemos dizer se o Conselho Supremo das Forças Armadas é a favor ou contra esse papel.

O sr. não tem certeza de qual é a posição deles sobre um Estado islâmico? Não quero responder.

Que tipo de influência o sr. acha que o Islã deve ter sobre a Constituição? Esperamos nos tornar um Estado civil, não um Estado secular. Com leis que emanam da sharia (lei islâmica), já que é a principal cultura do povo aqui. Até mesmo dos cristãos. Mesmo antes da revolução, uma vez um tribunal daqui decidiu que um cristão podia se casar de novo e o papa condenou essa decisão, dizendo que queria que prevalecesse a sharia, que se aplica a todo o país, e estabelece que os cidadãos devem obedecer à religião, não ao tribunal. E a Justiça concordou, porque é o que diz o Artigo 2.º da Constituição, que as leis emanam da sharia. Portanto, não temos nenhum conflito com os cristãos. Mas, se as leis liberais prevalecem, as pessoas podem se casar e divorciar quantas vezes quiserem, o que é contra a religião cristã. A sharia diz que os cristãos podem consultar sua Igreja sobre todas as questões pessoais.

Que outros aspectos da vida devem ser governados pelos princípios islâmicos? Estamos falando genericamente de todos os princípios, mas tudo vem de forma gradual. Queremos aplicar as normas da sharia também na economia. Por exemplo, o zakat, a transferência de dinheiro dos ricos para os pobres. A eliminação dos juros, outro preceito islâmico, é a melhor medida para a economia. Até os maiores economistas reconhecem isso, assim como os manifestantes do movimento Ocupe Wall Street. Mas não podemos baixar os juros para zero de um dia para o outro. Seria catastrófico, até para os títulos da nossa dívida. Temos de respeitar os contratos assinados com outros países. Também queremos incentivar, com empréstimos sem juros, as pequenas e médias empresas, como fez o Lula no Brasil.

E o véu? Vocês querem mudar a maneira como as mulheres se vestem? Não vamos impor nada ao povo egípcio. A sharia desapareceu da vida das pessoas por muito tempo. Elas não têm uma visão completa da sharia, não sabem como ela as beneficiará, as levará para o caminho certo. Então, não podemos dizer: ‘OK, pessoal, agora governamos vocês e queremos impor isto e aquilo’, coisas que eles nunca ouviram falar. As coisas vêm gradualmente, com discussão, por meios democráticos, e temos certeza de que os egípcios aceitarão bem a sharia.

Como era sua vida política antes da revolução? Tanto nós quanto os outros não tínhamos liberdade. Era como uma peça de teatro. O partido do governo era o herói e todos os personagens. Éramos a plateia. Não podíamos fazer nada a não ser pagar os ingressos.
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Surpreendente avanço salafista preocupa os laicos no Egito

por Sarah Benhaida/ Agência AFP (01/12)

A ideia de um Parlamento dominado por uma aliança entre a Irmandade Muçulmana e os salafistas provoca inquietações nos meios laicos e na comunidade copta.

“O temor é que se as correntes islamitas dominarem o Parlamento, isto pode culminar em um sistema não democrático e autoritário sob cobertura religiosa”, afirmou Hassan Nafaa, professor de ciência política na Universidade do Cairo, citado por Al Churuq.

“Não queremos substituir Mubarak por um regime teocrático autoritário”, acrescentou.

De qualquer forma, a coalizão entre o PLJ e o Al Nur não é algo já conquistado. O Al Nur, que formava parte da Aliança democrática dirigida pela Irmandade Muçulmana, saiu desta para criar sua Aliança Islâmica.
Os salafistas, que reivindicaram uma interpretação mais rigorosa do islã, convocam a aplicação da sharia (lei islâmica) nos terrenos político, social e econômico.

Estes resultados só envolvem o primeiro terço do Egito, que votou na segunda e terça-feira. As eleições continuam em todo o país até o dia 11 de janeiro pelos deputados e depois até o dia 11 de março para a Shura (senado).

No entanto, se esta tendência se confirmar nas próximas etapas da eleição, a Irmandade Muçulmana se converterá na maior força política egípcia, depois de ter sido reprimida durante décadas no regime do presidente deposto Hosni Mubarak.

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Sabem o que isso significa? Que aos poucos vai sendo esclarecido o verdadeiro objetivo dessa “Primavera Árabe”, que não dá flor nem para o funeral de suas vítimas.  Albert Pike  deve estar se remexendo no túmulo.

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