15 de nov. de 2011

O advogado do Zezé Perrella.

Ninguém espera que as acusações de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e evasão de divisas contra o Senador e, ainda, presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, sejam logo, devidamente, esclarecidas. Mesmo quem não faz a menor idéia dos trâmites do processo, sabe que casos como esse, envolvendo gente graúda como esse,  são arrastados preguiçosamente por anos e anos e anos.

Mas sejamos otimistas! Imaginemos que o STF autorize, logo, a abertura dos inquéritos contra o Senador. O que você espera – torce ou acredita – que vai ser apurado? Zezé Perrella é, mesmo, um ladrãozão ou só mais uma vítima no “país do denuncismo”? (Em Julho desse ano, Zezé disse à Folha: “Me sinto no país do denuncismo”).

Zezé vive dizendo que não teme nenhuma investigação, que ser investigado não é crime e que não teria nenhum problema em abrir mão do foro privilegiado a que tem direito como Senador.

Talvez, ele, durma, mesmo, com a consciência tranquila e não tenha cometido nenhum desse crimes.

Mas…vamos nos permitir exercitar a imaginação um pouquinho. Admitamos que Zezé Perrella é, mesmo, um ladrãozão e que possíveis investigações da PF e dos MPs o deixe em condição de réu perante a Justiça.
“Oh! E agora, quem poderá me defender?”. Essa pergunta Zezé já se fez há muito tempo e o Chapolin Colorado não caiu na frente dele.

Zezé está muito bem de advogado. Trata-se do mineiro, cruzeirense, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay,  retratado na última edição da Revista Piauí como O Protetor dos Poderosos que “faz o impossível para que Brasília funcione direito”.

Kakay é daqueles caras que podem ser chamados de “o cara”. Veja essa parte da matéria assinada por Daniela Pinheiro:

“Quem contrata Kakay – apelido que Almeida Castro cunhou para si mesmo, inventando até a grafia – compra um pacote raro no mercado jurídico. Ele faz a defesa técnica e atua também como assessor de imprensa, perito em imagem e especialista em regimento do Congresso, alem de ser frequentador de Comissões Parlamentares de Inquérito, íntimo de ministros e chefes de partido, interlocutor de jornalistas respeitados, amigo de empresários biliardários e expert nos códigos do poder brasiliense.
Em trinta anos de profissão, ele contou ter defendido dois presidentes (José Sarney e Itamar Franco), um vice (Marco Maciel), cinco presidentes de partido (simultaneamente), quarenta governadores (em períodos diversos), dezenas de parlamentares (atualmente são quinze senadores) e uma penca de ministros (no governo de Fernando Henrique Cardoso foram treze; no de Luiz Inácio Lula da Silva, três; no de Dila, dois). No mês passado, acrescentou à freguesia um ex-governador, um presidente de Assembléia Legislativa e um juiz de Tribunal de Contas estadual.

A capilaridade prossegue na iniciativa privada. De seu portfólio constam empreiteiras (Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS), bancos (Sofisa, BMG, Pine), banqueiros (Daniel Dantas, Salvatore Cacciola, Joseph Safra), empresário de renome internacional e milionários provincianos, todos num momento ou outro enrolados com a Justiça.”

Seu mais novo cliente é o ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva. Um caso que no final da matéria ele resumiu assim: “Politicamente, a permanência dele era insustentável mas, juridicamente, o caso é fácil. Na verdade, o processo agora toma um leito normal. Para dvogar é melhor, mas perde a adrenalina que eu gosto”.

Das 5 páginas preenchidas pela matéria, Zezé Perrela aparece numa ligação telefônica numa manhã em que a jornalista esteve no escritório do advogado:

“Eram onze da manhã e Kakay estava no escritório, decorado com inúmeras fotos (ele e Lula, ele e Sarney, ele e ACM, ele e Roberto Carlos) e uma gigantesca obra cilíndrica, de um artista plástico mineiro. Usava uma calça preta, sandália Crocs da mesma cor e uma camiseta amarelo-canário com o símbolo de seu time, o Cruzeiro.

O celular tocou, ele checou quem chamava e atendeu com a voz entusiasmada. “Meu governador preferido, tá bom”, disse. Dois minutos depois, outra chamada. Era o senador Zezé Perrella, cartola do Cruzeiro, acusado, entre outros crimes, de enriquecimento ilícito. Antes de desligar, o advogado brincou: “Se o Cruzeiro for rebaixado, eu perco seu prazo, hein Zezé?”

Confesso minha ignorância: não entendi esse “perco seu prazo”. Mas uma coisa ficou clara: Zezé Perrela tem motivos para “não temer nada”. Está muito bem de advogado.

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