"Quatro pessoas num mesmo dia me dizem que vão fazer 30 anos. E me anunciam isto com uma certa gravidade. Nenhuma está dizendo: vou tomar um sorvete na esquina, ou: vou ali comprar um jornal. Na verdade, estão proclamando: vou fazer 30 anos e, por favor, prestem atenção, quero cumplicidade, porque estou no limiar de alguma coisa grave..." (trecho de "Fazer 30 anos" de Affonso Romano de Sant'Ana).
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Eu também estou às vésperas de fazer 30 anos. Não vejo nada de, exatamente, grave nisso. Talvez, tome um sorvete e compre um jornal mas sem querer parecer que trata de um dia "como qualquer outro". Dia que se completa 30 anos não pode dia "como qualquer outro". Trinta anos...olha...não é pouca vida, não, principalmente, quando a gente não perde de vista que a espécie humana vive muito poucos anos. Inclusive, a Dercy Gonçalves e o Oscar Niemeyer.
Bem... apesar dos poucos anos pela frente - mesmo, se mais 80 - resolvi olhar um pouquinho pra trás; conhecer um pouco dos que faziam e o que faziam por aqui no ano em que eu nasci.
1982...ano marcado, também, pelas últimas Eleições durante o regime militar no Brasil; a primeira eleição direta pra Governador desde 1960. Em São Paulo um dos candidatos foi o Luiz Inácio Lula da Silva. Há exatos 30 anos, em 17 de janeiro de 1982, a Folha publicou trechos de uma entrevista com ele, quando ainda nenhum partido havia decidido seus candidatos. Reparem que o discurso utilizado por ele durante mais de duas décadas já estava muito bem decorado. Um discurso arrastado até 2001 quando o publicitário Duda Mendonça levou o PT à manicure, à pedicure, ao cabelereiro, ao maquiador e ao cirurgião plástico. Hoje, Lula e o PT não se reconheceriam no espelho. Confira:
"O PT manterá sua linguagem e sua cobrança de oposição sem abrandamento, em função de uma pacificação geral, um entendimento que não existe. Pretendemos propor um levantamento de fundos para a campanha para mobilizá-la. Não podemos ficar a zero, mas não pretendemos entrar nessa brincadeira estapafúrdia de que as eleições exigem fortunas. Uma campanha exige, acima de tudo, um trabalho de conscientização. Não pretendemos gastar nem um décimo do que os candidatos dos outros partidos vão gastar em São Paulo, por exemplo. Não temos.
Recuso-me a tratar o PT como um partido nanico. Ter 30, 50, 150 deputados não quer dizer força ou grandeza de um partido político, porque a última eleição foi no bipartidarismo e teria que dar isso aí. Vamos conferir em 15 de Novembro.
Tenho sabido de críticas feitas a mim, insinuações de que o Lula não seria bom candidato a governador porque não tem cultura, não é preparado. É engraçado como as pessoas caem em contradição. Acho errado uma pessoa que se considera acima do nível do povo brasileiro querer representá-lo."
Como o mundo muda em 30 anos, não?
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